Se me pedirem para definir resumidamente o que é necessário para ser tradutor, começarei por falar, com toda a certeza, sobre a importância fundamental do conhecimento das línguas e culturas de partida e de destino e da necessidade de informação actualizada sobre as áreas de trabalho. Terminarei a realçar a sensibilidade indispensável para conseguirmos transportar um texto ou um conceito de uma língua para a outra sem que nada se perca pelo caminho. Desempenhamos, portanto, a função de ponte entre duas margens.
Desengane-se quem pensa que é sempre tarefa fácil. Não é. Deparamo-nos muitas vezes com nuances da língua ou dos conceitos que requerem subtileza e argúcia para que não seja transmitida a mensagem incorrecta.
Há, como em todas as outras áreas, o risco do erro, da imprecisão, da dificuldade de interpretação.
No campo dos erros, sabemos que hoje se atribuem, com frequência, determinados erros à utilização de programas de tradução automática. No entanto, trata-se de algo que nem é novidade, nem pode ser imputado exclusivamente à utilização destes programas. Há registos de diversos acontecimentos na História Mundial em que o trabalho do tradutor ou intérprete ficou conhecido pelas piores razões, como por exemplo, em 1977, quando o presidente Jimmy Carter visitou a Polónia e espalhou perplexidade, por mais do que uma vez, ao dirigir-se ao povo polaco em termos pouco adequados ou durante a Guerra Fria em que uma frase de Nikita Khrushchov sobre os Estados Unidos foi traduzida incorrectamente e fez crescer o receio mundial de um conflito armado, já para não mencionar os estudos que descrevem diversos erros de tradução na Bíblia.
Dirão os mais incautos que são apenas palavras. Sim, são mesmo só palavras. Mas são também as palavras que nos convocam, chamam, regem as nossas vidas, ajudam a moldar a forma como pensamos, entre tantas outras coisas. Tratando-se de uma tradução, o resultado final vincula o tradutor e o cliente, para o bem ou para o mal. Serão apenas palavras, mas são essas palavras que fazem toda a diferença.
- SAUDADE E A ARTE DE TRADUZIR - Abril 19, 2022
- O NATAL ESTÁ A CHEGAR - Outubro 17, 2018
- WE (DON’T) SPEAK YOUR LANGUAGE - Setembro 18, 2018
Comentários recentes