SAUDADE E A ARTE DE TRADUZIR

Abril 19, 2022
Tina Duarte

Se fizermos uma pesquisa no Google encontramos com facilidade listas de palavras referenciadas como não tendo tradução para outras línguas e que, à primeira vista, parecem apresentar-se como um problema de difícil resolução para os tradutores. Nessas listas, encontramos palavras de várias línguas que descrevem sentimentos ou momentos específicos e, invariavelmente, surge a portuguesa “saudade”.

Na hipotética situação de estarmos a debater este assunto com pessoas de outras nacionalidades, nós, portugueses de gema, orgulhosos da nossa língua e da nossa história, apressar-nos-emos a acenar em concordância, porque, afinal, “saudade” é muito mais que do que o “sentir falta” que será transmitido pela tentativa óbvia de tradução direta para línguas como o francês ou o inglês. E falaremos da nostalgia, da melancolia funda que existe nos nossos olhos, daquela ansiedade que tanto nos inquieta, da tristeza ou da dor quase física que nos invade quando sentimos falta de alguém. Porque isso sim, é saudade. A tal que não pode ser traduzida por duas palavras, verbo e complemento, apenas, remataríamos nós.

Na verdade, todas as palavras que constam dessas listas têm sempre uma explicação detalhada q.b. que nos permite perceber a dimensão dos momentos ou sentimentos a que se referem. Sendo a tradução a arte de colocar na nossa língua o que nos é transmitido pela língua de partida, o desafio está em conseguirmos condensar tudo o que o conceito abarca e apresentar ao leitor o resultado de forma natural, sem perder nada nesta transição.

Esta será então a nossa especialização, saber dizer na nossa língua o que alguém pensou, sentiu e posteriormente escreveu noutra língua. Saber condensar nas nossas palavras a mesma força ou intensidade do que lemos, conseguir interpretar todas as nuances da frase, os sentidos das palavras tendo em conta o universo dos leitores, respeitar a voz de quem escreveu.

Latest posts by Tina Duarte (see all)