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WE (DON’T) SPEAK YOUR LANGUAGE - Crossingwords

WE (DON’T) SPEAK YOUR LANGUAGE

Setembro 18, 2018
Tina Duarte

Aviso à navegação: este artigo pode ser considerado demasiado pessoal. Disclaimer feito, podemos prosseguir.

Tenho reparado que o nosso pequeno Portugal mostra mudanças. Não falo de política, economia ou índices. Falo de comunicação. Em época de férias, altura sempre mais propícia a passeios, viagens e exploração de vilas e cidades, salta à vista a cara lavada de alguns espaços, a mudança da linguagem utilizada e as novas designações com que somos confrontados todos os dias. Falo portanto da língua e da forma como é utilizada. Estou certa que uma boa parte desta mudança tem origem no facto de hoje Portugal estar na moda e haver toda uma onda de mudança impulsionada pelo turismo e pelo encanto que todo o mundo agora descobriu em Portugal.

No entanto (há sempre um “no entanto”…), em termos de hotelaria e restauração, continuamos a assistir a um claro desfasamento entre o que é anunciado e o serviço que realmente é prestado. Aponto dois ou três exemplos, daqueles mais flagrantes:

  • temos as ementas e as suas célebres traduções que muitas vezes parecem um encontro falhado entre a tradução automática, o Frankenstein e uma manta de retalhos;
  • temos os hotéis, residenciais, hostels, B&B que anunciam o célebre “we speak your language” e depois, chegados ao local, de malas e bagagens, apercebemo-nos de que até a comunicação mais básica se assemelha ao decifrar de um mapa do tesouro dos piratas;
  • temos os cafés e pastelarias lindos, bem decorados, com gente vestida a rigor, a cumprir todos os quesitos das finanças, das ASAES deste mundo, com bolos, tostas e outras delícias a saírem e que se apresentam com um letreiro em madeira por cima da porta, com o nome do café e por baixo: “Food and Drinks” e, no entanto, ninguém por ali fala qualquer língua para além de um (muito simpático) português.

Não sou a pessoa mais viajada deste mundo. Conheço pouco mais de meia dúzia de países da Europa, visitei uma vez os Estados Unidos e, da experiência que tenho, acho que, ainda assim, Portugal está anos-luz à frente de muitos dos países que consideramos mais “avançados” que nós, em termos de atendimento ao público, pela simpatia e profissionalismo. Ainda assim, acredito que os proprietários de todos estes espaços que menciono (e são exemplos reais) pensassem que a recordação mais forte que um cliente guarda da visita é das gargalhadas que a ementa provocou, ou da epopeia que foi pedir mais uma toalha para o quarto ou fazer uma pergunta sobre determinado ingrediente, considerariam a contratação de pessoal qualificado para a tradução das ementas ou para o atendimento ao público. Ou, como diria uma célebre voz da RFM, vale a pena pensar nisso.

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