Saber ler ou falar uma língua estrangeira não é a mesma coisa que saber traduzir ou interpretar. A tradução e a interpretação são habilidades especiais que os profissionais trabalham arduamente para desenvolver.
No livro «Found in Translation», Nataly Kelly e Jost Zetzsche revelam-nos as formas surpreendentes e complexas como a tradução molda o mundo em que vivemos. A tradução encontra-se omnipresente em tudo o que fazemos e em todos os lugares por onde passamos, desde os livros sagrados, aos alertas de tempestade, à poesia e aos tratados de paz. A tradução espalha a cultura, alimenta a economia global, evita guerras, sendo diversos os exemplos incluídos no livro para ilustrar a forma como a tradução desempenha um papel fundamental na Google, no Facebook, na NASA, nas Nações Unidas, nas Olimpíadas e muito mais…
Mas, tal como acontece em tantas outras profissões, a importância de uma boa tradução ou interpretação, torna-se mais óbvia quando as coisas não correm bem e quando conseguimos ver ou até sentir o elevado risco que pode representar este trabalho.
Foi isto exatamente que aconteceu quando, em 1980, Willie Ramirez, então com 18 anos, foi internado num hospital da Flórida em estado de coma. Os seus familiares tentavam descrever o sucedido à equipa médica que o atendeu, mas como só sabiam falar espanhol, foi pedida a intervenção de um funcionário bilingue para que fizesse a interpretação do sucedido.
Um intérprete profissional saberia que quando os pais diziam que o seu filho estava “intoxicado” em espanhol, a tradução mais próxima em inglês seria a de “envenenado” e não de “embriagado” como lhe transmitido pelo “funcionário-intérprete”, que imediatamente levou os médicos a considerar tratar-se de um caso de uso de drogas ou de álcool. Assim, enquanto a família tentava explicar aos médicos que o filho sofria de uma intoxicação alimentar, a equipa pensava que estivesse a sofrer de uma overdose intencional causada pelo uso de drogas. Neste impasse, Willie sofreu uma hemorragia intracerebral e, devido ao atraso do tratamento causado pelo trabalho do “intérprete”, ficou tetraplégico.
No final, o hospital foi condenado a pagar uma indemnização por negligência médica no valor de 71 milhões de dólares, como forma de compensação pelos danos permanentes.
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